Após adotar semana de trabalho de 4 dias, empresas brasileiras veem produtividade aumentar
Um final de semana estendido é o sonho de muitos profissionais — e desde novembro do ano passado essa é a realidade de alguns funcionários da Vockan, empresa de tecnologia que desenvolve sistemas de ERP e soluções para a indústria de manufatura, com sede em São Paulo.
Entre novembro do ano passado e março deste ano, a companhia, que possui 100 funcionários, realizou um projeto piloto e reduziu de 5 para 4 dias a semana de trabalho de cerca de dez funcionários da área de suporte ao cliente, sem a diminuição de salário.
“Percebemos que o time suporte, dentro da empresa, era um dos que mais estavam estressados e com dificuldade de se adaptar ao modelo híbrido. Algo que tem um impacto direto no negócio porque são eles que lidam com o cliente final”, diz Fabrício Oliveira, CEO da Vockan.
Para conciliar um período de descanso maior dos funcionários e, ao mesmo tempo, garantir que não houvesse impacto na operação, a Vockan estabeleceu escalas. Metade do time, então, passou a folgar na segunda-feira e outra metade na sexta-feira.
Além do desafio logístico para continuar funcionando normalmente, Oliveira conta que enfrentou a resistência dos líderes que temiam que a produtividade caísse. “Alguns chegaram a questionar: mas se eles estão com dificuldades para entregar resultados trabalhando cinco dias por semana, imagina como será com a jornada de apenas quatro dias?”, afirma.
Mesmo assim, o executivo insistiu na ideia. “Eu já sabia que existiam empresas adotando um jornada reduzida fora do Brasil. Além disso, também tomamos o cuidado de começar com uma área e testar o modelo antes de implementar na empresa toda”, diz Oliveira.
Jornada de trabalho de 4 dias aumentou satisfação
Logo após o início do programa, a Vockan se tornou a primeira empresa brasileira a se filiar à 4 Day Week Global, organização sem fins lucrativos, sediada na Nova Zelândia, que realiza testes com empresas ao redor do mundo que adotaram a jornada de 4 dias de trabalho.
Segundo um estudo conduzido pela organização, em parceria com pesquisadores das universidades de Cambridge, Oxford e do Boston College, 39% dos profissionais de empresas do Reino Unido que adotaram a semana de trabalho de quatro dias relataram menos estresse e 71% reduziram seus níveis de esgotamento.
A 4 Day Week Global também irá avaliar o impacto da redução de jornada na Vockan, em uma análise que contará com empresas portuguesas que também adotaram a semana de quatro dias. Por enquanto, dados preliminares coletados pela própria Vockan mostram que o projeto foi bem-sucedido.
De acordo com a companhia, após cinco meses do projeto, a satisfação dos funcionários, métrica que engloba questões como gestão do tempo, avaliação da saúde física e mental, subiu de 54% para 70% entre aqueles que participaram do piloto. A percepção sobre o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho também cresceu de 57% a 86%.
Somado a isso houve uma melhora na produtividade do time, que passou a atender 93% dos chamados durante o prazo esperado — antes do piloto, esse índice era de 89%. Com os resultados, em março o projeto piloto foi convertido em política definitiva pela Vockan e, agora, a ideia é expandir a prática para outras áreas da empresa.
“O nosso maior desafio é com o time de consultoria, que está em campo visitando o cliente, mas a ideia é que todas as áreas adotem a jornada de quatro dias. Em breve, devemos implementar a redução para o time de Recursos Humanos”, afirma Oliveira.
De acordo com executivo, além de impactar o engajamento e a qualidade de vida dos profissionais, a ideia da prática também é atrair talentos no disputado mercado de tecnologia.
“Tem muita empresa que enxerga uma semana de trabalho de quatro dias como um custo extra. Mas, olhando os dados, além de não haver impacto na receita, a produtividade aumentou”, diz Oliveira. “Além disso, a prática vai trazer ganhos em termos de retenção e atração de talentos. Mesmo na área tech, o meu maior ativo são as pessoas. E pessoas esgotadas ou insatisfeitas impactam o negócio”, afirma.
Fonte: Exame