Copom baixa Selic a 13,25% ao ano; veja o que isso significa, segundo economistas

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu baixar a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, a 13,25% ao ano. A decisão, dada nesta quarta-feira, 2, vem em conformidade com a projeção do mercado financeiro e desejo de longa data do governo Lula (PT), crítico do alto patamar de juros no país. Mas o que isso representa?

Embora parte dos analistas do mercado financeiro parabenizem a política de Roberto Campos Neto, diretor do Banco Central, vale alertar que o cenário de queda da inflação, com redução do ritmo de aumento dos preços, não é necessariamente fruto da matemática mais conservadora da instituição monetária.

Marco Rocha, economista e professor do Instituto de Economia da Unicamp, entende que a política monetária foi bastante errática até então. Um levantamento do MoneYou mostra que o Brasil ainda lidera em taxa de juros de altas no mundo, ficando atrás da Argentina.

“Passamos por um afrouxamento demasiado da política monetária em 2020, que teve efeito sob a volatilidade da taxa de câmbio, e isso foi seguido de um dos maiores apertos monetários na história econômica do Brasil, o que gerou uma taxa de juros para conter essa volatilidade cambial extremamente elevada, e que se prolongou por muito tempo numa espécie de cabo de guerra para provar sua independência em relação ao governo”, explica o professor.

O que esperar dos juros até o fim do ano?
A expectativa para a taxa Selic no fim deste ano ficou estável no Boletim Focus. A mediana para os juros básicos no fim de 2023 continuou em 12%, e em 9,50% para o ano de 2024. Há um mês, as estimativas eram de 12,50% e 10,00%, nessa ordem.

“O que a gente vai ter até o final do ano é uma redução moderada, que ainda deve manter a taxa de juros brasileira como uma das mais altas do mundo. O efeito disso vai ser muito pequeno na economia: vai facilitar para o consumidor em geral, vai facilitar a reciclagem das dívidas, para as empresas também, e isso é bem salutar, dado que tivemos aumento de endividamento com uma taxa de juros elevada, então poder reciclar essas dívidas, rolar essas dívidas a um custo menor vai ser importante tanto para as famílias quanto para as empresas”, defende Rocha.

Ainda em 2022, quando a taxa de juros foi elevada pela primeira vez aos 13,75% a.a., a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) alertou que a medida encareceria o acesso a crédito e as prestações aos consumidores: o juro médio para as pessoas físicas passaria de 117,23% para 118,21% ao ano. Uma elevação também era esperada para pessoas jurídicas.

Roncaglia acrescenta também o impacto nas expectativas empresariais. “Uma vez que o titânico spread bancário [diferença entre juros em empréstimos e em investimentos] no Brasil torna irrelevante o efeito desta queda sobre o crédito ao consumo de curto prazo”, afirma.

Todavia, finaliza o professor, os contratos mais longos que financiam os investimentos e mesmo o mercado de crédito corporativo tende a se beneficiar deste alívio, conquanto pequeno.

ISTOE