Mercado de trabalho continua aquecido e renda maior deve sustentar consumo de famílias, dizem economistas

A continuidade da tendência de queda da taxa de desemprego – o dado divulgado nesta terça-feira (31) mostrou que a taxa recuou para 7,7% no trimestre encerrado em setembro – e alta observada no rendimento médio dos trabalhadores, bem como da massa salarial, devem sustentar o consumo das famílias e manter certa pressão na demanda até o final do ano, na opinião de economistas.

O rendimento médio real efetivo cresceu 0,8% na margem em setembro e mostrou alta de 4,8% em termos interanuais. Já a massa salarial real efetiva avançou 0,9% no mês e 5,7% ante o mesmo período do ano passado, acelerando em relação aos 5,4% de um mês antes.

Para João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, os resultados da PNAD evidenciam que o mercado de trabalho segue dando suporte à perspectiva de uma desaceleração gradual da economia doméstica.

“Com a renda crescendo nesses níveis, há sustentação ao consumo das famílias, especificamente no setor de serviços e nas atividades do comércio ligadas à renda nos próximos meses, mesmo considerando a saída do efeito positivo do agronegócio e a política monetária ainda restritiva no país”, comenta.

A Kínitro mantém sua projeção para o final do ano de uma taxa de desemprego de 7,6%, com a média do ano ficando em 8,1%.

Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos comenta que a forte elevação do rendimento veio, em grande medida, da Indústria, setor para qual foi estimado um crescimento ao redor de 3% em setembro ante agosto.

Embora não haja previsão de ganhos salariais reais significativos nos próximos meses, pelo menos a ponto de afetar a postura da política monetária no curto prazo, ele pondera que o comportamento dos rendimentos reais precisa ser monitorado de perto, uma vez que a massa de renda real do trabalho teve sua quarta leitura positiva na margem.

“Nossa proxy para a massa de renda real ampliada disponível às famílias, que inclui benefícios previdenciários e transferências governamentais de proteção social, é que deverá crescer cerca de 5,5% este ano. Esse impulso de renda ajuda a explicar o desempenho do consumo das famílias acima do esperado em 2023, especialmente no primeiro semestre”, diz.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, também considerou os dados de rendimentos como destaque da divulgação do IBGE. “Os dados da PNAD vieram fortes, com aumento da população economicamente ativa (PEA) e estabilidade na população ocupada. Vale lembrar que a ocupação já superou o patamar pré-pandemia e está no maior nível da série”, compara.

Ela comenta ainda que o aumento da renda habitual e da ocupação explicam o avanço de 5% na massa de renda habitual no período.

Para Claudia, a dinâmica positiva do mercado de trabalho até agora pode ser explicada pelos dados de atividade econômica, que vieram mais fortes que o esperado no primeiro semestre, mas isso pode ter alguma alteração. “Daqui para a frente, acreditamos que haverá uma desaceleração da economia. Essa perda de fôlego, entretanto, não deve fazer a taxa de desemprego subir. Nossa previsão é que a taxa de desemprego fique praticamente estável, permanecendo em torno de 8% em 2023 e 2024”, estima.

Na visão do C6 Bank, o desemprego baixo somado ao aumento da renda real habitual deve comprometer a desaceleração da inflação de serviços, dificultando a convergência da inflação à meta. “Nossa projeção é que o Copom mantenha o plano de voo indicado na última reunião e promova um corte de 0,5 ponto percentual amanhã, repetindo essa dose em dezembro”, prevê.

Outro economista a dar mais atenção à renda nessa divulgação da PNAD é Rafael Perez, da Suno Research, que cita o rendimento real habitual de R$ em setembro, que teve alta de 1% em relação ao mês anterior e de 1,8% desde o início do ano. “Esse movimento, somado à queda no desemprego, têm sido fatores importantes para manter o consumo aquecido e sustentar a demanda num momento que alguns setores da economia começam a dar sinais de desaceleração.”

Ele comenta ainda que, com o aumento nas contratações temporárias para o final de ano pode haver uma continuidade no aumento do emprego, mas sem espaço para quedas significativas na taxa de desemprego, já que o mercado de trabalho deve começar a refletir o menor crescimento da economia nesse segundo semestre.

Ocupação recorde
Igor Cadilhac, economista do PicPay, por sua vez, destaca que os 7,7% no trimestre móvel encerrado em setembro, é a menor taxa para o período desde 2014 e o maior número de ocupados da série histórica. “Na análise dos dados dessazonalizados, com base nos nossos cálculos, observamos uma estabilização em 7,8%.”

Ele também cita a taxa de participação, que se manteve estável em 61,8%. “Esse bom desempenho no trimestre encerrado em setembro se deve principalmente pela expansão do número de pessoas trabalhando, uma vez que, cada vez mais estamos observando o retorno das características econômicas e sazonais no período de consolidação da recuperação da pandemia”, explica.

Segundo Cadilhac, esse quadro mais favorável pelo lado da ocupação ainda permite um melhor desempenho da formalidade e uma redução do número de pessoas que procuram trabalho.

Maykon Douglas, economista da Highpar, atribui à composição mais benigna do emprego nos últimos meses o fator de o rendimento médio real dos trabalhadores ter subiu novamente. “Considerando o próprio crescimento da ocupação em si, a massa de rendimentos renovou a máxima histórica.”

Para ele, os dados divulgados hoje reforçam a trajetória dos últimos meses de resiliência do emprego e da renda ao longo do ano, que explicam boa parte da expansão do consumo das famílias. “Olhando à frente, entendemos que os efeitos defasados da política monetária contribuirão para um aumento da taxa de desemprego, que ainda resistirá em patamares historicamente baixos por mais um bom tempo. Para 2023, projetamos uma taxa média de desemprego de 8,1%”, estima.

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