Unicef lança relatório sobre o impacto das mudanças climáticas na educação em 2024

Nesta sexta-feira (24), Dia Internacional da Educação, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou um relatório alarmante sobre os efeitos das mudanças climáticas na educação de crianças e adolescentes em todo o mundo em 2024.
Intitulado Learning Interrupted: Global Snapshot of Climate-Related School Disruptions in 2024, o estudo revela que, em 85 países, pelo menos 242 milhões de estudantes tiveram sua rotina escolar interrompida por eventos climáticos extremos, como ondas de calor, ciclones, tempestades, inundações e secas.
No Brasil, a situação também é preocupante: 1,1 milhão de crianças e adolescentes ficaram sem acesso regular às aulas devido a desastres naturais. Entre os casos analisados, destacam-se as enchentes no Rio Grande do Sul, que afetaram mais de 2 mil escolas estaduais e deixaram 741 mil estudantes sem aulas, e a seca na Amazônia, que impactou cerca de escolas, incluindo mais de 100 em áreas indígenas, prejudicando a educação de 436 mil alunos.
De acordo com Catherine Russell, diretora executiva do Unicef, as crianças são particularmente vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas.
“Os corpos das crianças aquecem mais rápido, suam com menos eficiência e esfriam mais lentamente que os adultos. Elas não conseguem se concentrar em salas de aula sem proteção contra o calor sufocante e não podem chegar à escola se o caminho estiver inundado ou se as instalações foram destruídas. Em 2024, o mau tempo manteve um em cada sete estudantes fora das aulas, ameaçando sua saúde, segurança e educação a longo prazo”, afirmou.
Impactos que vão além das estruturas escolares
O relatório destaca que as mudanças climáticas comprometem não apenas a infraestrutura escolar, mas também criam condições de aprendizagem inseguras, afetando a concentração, a memória e a saúde física e mental dos estudantes.
Em contextos frágeis, os danos são ainda mais profundos. O fechamento prolongado de escolas reduz as chances de retorno às aulas e expõe crianças a riscos como trabalho infantil e casamento precoce. Meninas, em particular, enfrentam vulnerabilidades acentuadas, como abandono escolar e maior risco de violência de gênero durante e após desastres climáticos.
Sistemas educacionais sob pressão
Os sistemas educacionais já enfrentavam desafios antes da crise climática. A falta de professores qualificados, as salas de aula superlotadas e as desigualdades no acesso e na qualidade da educação foram agravados pela intensificação de desastres naturais, colocando milhões de crianças em risco de abandono escolar definitivo.
Além disso, o relatório aponta que escolas e sistemas educacionais continuam, em grande parte, despreparados para lidar com os impactos climáticos. Os investimentos em infraestrutura resiliente e estratégias adaptativas permanecem baixos, e a coleta de dados sobre interrupções escolares por desastres climáticos é insuficiente.
Chamado à ação global
O Unicef apela aos governos e ao setor privado para que tomem medidas urgentes para proteger as crianças dos crescentes impactos das mudanças climáticas. Entre as ações prioritárias estão:
- Reforçar os planos climáticos nacionais, garantindo que os serviços essenciais para as crianças, como a educação, sejam mais resilientes às catástrofes e contenham compromissos efetivos de redução de emissões.
- Investir em escolas resilientes, com infraestruturas seguras e adaptadas para enfrentar desastres naturais.
- Acelerar o financiamento para soluções climáticas na educação, incluindo iniciativas comprovadas que promovam a continuidade do aprendizado em situações de crise.
- Integrar a educação climática em todos os níveis de ensino, preparando as crianças para enfrentar os desafios futuros.
“A educação é um dos serviços mais frequentemente interrompidos devido aos riscos climáticos. No entanto, ela é muitas vezes ignorada nas discussões políticas, apesar de seu papel essencial na preparação das crianças para um futuro incerto”, afirmou Russell. “O futuro das crianças deve estar no centro de todos os planos e ações relacionados ao clima.”