Por Redação Econômica | Poder & Política
A decisão do ex-presidente Donald Trump de impor tarifas de até 50% sobre todas as importações brasileiras marca um novo capítulo de instabilidade nas relações comerciais entre Estados Unidos e Brasil — desta vez, com contornos políticos explícitos e impactos econômicos que já se fazem sentir em diversas cadeias produtivas nacionais.
Trump, presidente americano, justificou a medida como resposta direta ao processo judicial em andamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil, o que ele classificou como uma “perseguição política” a seu aliado. A retaliação, anunciada em tom eleitoral, reacende temores sobre o uso do comércio internacional como ferramenta de pressão política — algo que o mundo já testemunhou durante sua primeira passagem pela Casa Branca.
O Brasil, no entanto, não é mais um ator passivo no tabuleiro global. A resposta do governo Lula foi firme: haverá retaliações proporcionais, com base na Lei de Reciprocidade Comercial aprovada neste ano, e o país não descarta levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), reiterando que não aceitará ingerência estrangeira sobre decisões judiciais soberanas.
Enquanto a tensão escala, os efeitos econômicos se espalham como ondas sísmicas. A Embraer, um dos ícones da indústria nacional, alerta que as tarifas podem ser tão danosas quanto o impacto da pandemia de Covid-19 em 2020, dada sua forte exposição ao mercado norte-americano de aviação executiva e comercial. Exportadores de café, carne, suco de laranja, motores e componentes industriais também estão na linha de frente da crise, enfrentando perda de competitividade imediata.
É impossível ignorar a ironia geopolítica: o Brasil se vê atingido por uma medida unilateral de um aliado político de parte da direita brasileira, enquanto tenta preservar suas instituições democráticas. No centro desse turbilhão, está o agronegócio — setor que, paradoxalmente, se beneficiou da guerra comercial entre EUA e China durante o primeiro mandato de Trump, mas que agora vê seu maior parceiro no hemisfério norte se fechar de forma abrupta e punitiva.
Além do impacto comercial direto, o anúncio das tarifas gerou reações nos mercados. O real sofreu desvalorização, a bolsa de valores registrou perdas acentuadas e o clima de incerteza aumentou, refletindo os riscos que emergem quando o comércio internacional é tratado como uma extensão de disputas eleitorais.
Há, porém, uma oportunidade implícita nesse cenário adverso: o choque pode acelerar a diversificação dos mercados brasileiros e fortalecer sua estratégia diplomática multilateral. A Ásia, os países árabes, a União Europeia e a América Latina devem ganhar ainda mais peso na política externa e comercial do Brasil. Há também um impulso renovado para o fortalecimento do Mercosul e para a consolidação de acordos comerciais com blocos que valorizem estabilidade, previsibilidade e respeito mútuo.
Mais do que uma crise bilateral, o episódio Trump-Brasil de 2025 expõe um dilema maior: até que ponto as economias democráticas estão preparadas para lidar com líderes que instrumentalizam o comércio para fins políticos? O Brasil, neste momento, precisa responder com firmeza, mas também com inteligência estratégica.
A economia brasileira tem musculatura para suportar o embate — com reservas internacionais robustas, setor agrícola competitivo e base industrial resiliente. Mas o episódio serve como um alerta contundente: a soberania econômica depende de autonomia diplomática, previsibilidade institucional e, acima de tudo, da disposição de defender os interesses nacionais com coragem e pragmatismo.


